O Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Viçosa foi palco, no dia 12 de fevereiro, para um evento evocativo do centésimo aniversário do nascimento do farmacêutico Joaquim Torrinha, ilustre calipolense, proprietário e diretor técnico da Farmácia Central, e especialista em Análises Clínicas pela Ordem dos Farmacêuticos, que faleceu em janeiro de 2014. A homenagem juntou família, amigos e representantes de organizações a que esteve ligado, entre as quais a Ordem dos Farmacêuticos.
Joaquim Francisco Soeiro Torrinha nasceu em Vila Viçosa a 31
de dezembro de 1918. Filho único de Joaquim Loureço Torrinha, também ele
farmacêutico e fundador da farmácia que passaria para as suas mãos, em 1943, após
a morte do pai, e pouco depois de casar com Fernanda Coutinho, também ela
farmacêutica. Juntos, deram seguimento a uma dinastia familiar de
farmacêuticos, sendo hoje a neta, Ana Filipa Perdigão Torrinha, a diretora
técnica da mais antiga farmácia de Vila Viçosa.
Iniciou o curso de Farmácia na Escola de Farmácia de Lisboa
e concluiu a licenciatura na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, em
1941. No início da carreira, envereda pela área das Análises Clínicas, primeiro
no Serviço de Análises Clínicas do Hospital dos Capuchos, depois nos Laboratórios
LAB, em Lisboa. Na década de 50, inicia também uma colaboração como farmacêutico
analista clínico nos hospitais de Évora e Estremoz, que perdura durante cerca
de 50 anos.
Em 1968 obtém o título de especialista em Análises Clínicas
pela Ordem dos Farmacêuticos, num período em que se envolveu intensamente na
luta pela equiparação entre farmacêuticos especialistas em análises clínicas e
médicos patologistas clínicos.
No início dos anos 70 esteve também ligado ao movimento
cooperativo no setor farmacêutico, integrando o núcleo fundador da cooperativa
de distribuição farmacêutica Codifar.
Joaquim Torrinha deixou também um importante legado enquanto
historiador, com artigos publicados na área da cerâmica popular alentejana, azulejaria
e história local, bem como no domínio da Farmácia, qualidade que foi
reconhecida pela Sociedade Brasileira de História da Farmácia, em 1956, com a atribuição
do estatuto de sócio correspondente.
Na década de 60, conclui a licenciatura em Ciências
Histórico-Pedagógicas na Universidade de Coimbra em mais uma demonstração de personalidade
multifacetada que o levou também à vice-presidência da Câmara Municipal de Vila
Viçosa, presidência da Assembleia Geral da Caixa de Crédito Agrícola de Vila
Viçosa, membro da direção do Lagar da Cooperativa de Vila Viçosa ou presidente
da Assembleia Geral do Grémio da Lavora de Vila Viçosa, entre vários outros
cargos e projetos em que se envolveu em vida.
Foi uma figura acarinhada e
respeitada não somente na terra que o viu nascer, e que ajudou a desenvolver, mas
entre a profissão que escolheu, envolvendo-se nos trabalhos das estruturas
associativas setoriais e na luta por um ideal de serviço público que sempre
defendeu.
Assumiu publicamente, logo enquanto presidente da Associação
de Estudantes da FFUP, a oposição ao anteprojeto que equiparava responsabilidades
entre técnicos e farmacêuticos e defendeu afincadamente a lei da propriedade da
farmácia, que entrou em vigor em 1965. Acompanhava atentamente a evolução do
setor e deixou escritos vários textos e artigos com o seu olhar sobre a profissão
e outras áreas de interesse.
A Ordem dos Farmacêuticos associou-se à homenagem deste
ilustra farmacêutico que, pelas suas qualidades humanas, sempre honrou e
defendeu a profissão.