A Direção Nacional da Ordem dos Farmacêuticos (OF) promoveu uma reunião aberta a todos os farmacêuticos com o objetivo de analisar, debater e definir uma estratégia de intervenção da instituição para o ramo das Análises Clínicas. O encontro contou com a participação de dirigentes da OF, representantes das organizações e associações setoriais e quase duas centenas de farmacêuticos analistas clínicos, que, presencialmente ou à distância, puderam expressar a sua visão sobre o exercício da profissão numa área que concilia a prática clínica e laboratorial.
O bastonário da OF, Helder Mota Filipe, deu o mote para o início dos trabalhos, explicando o propósito de “identificar em que áreas o farmacêutico se pode diferenciar nas Análises Clínicas e em que apresenta uma mais-valia em relação aos profissionais com outras qualificações”.
Em seguida, Rui Pinto, da Direção Nacional da OF, traçou o panorama atual da atividade farmacêutica no ramo das Análises Clínicas, com a maioria dos profissionais no ativo em faixas etárias acima dos 50 anos e um contínuo decréscimo do número anual de novos farmacêuticos especialistas.
Ambos os dirigentes expressaram otimismo no futuro da atividade farmacêutica neste ramo profissional, sublinhando as qualificações e competências diferenciadas destes profissionais, que aliam técnicas laboratoriais, atividades clínicas, genética ou mecanismos de ação dos medicamentos. “Os medicamentos inovadores precisam dos marcadores que as análises clínicas e de genética humana proporcionam”, realçou Rui Pinto.
A reunião prosseguiu com as intervenções e testemunhos de dois farmacêuticos analistas clínicos que exercem a profissão no interior do país, no setor público e no setor privado – Paulo Ratado, do Serviço de Patologia Clínica da ULS Guarda, e Sofia Jorge, do laboratório Affidea Castelo Branco.
No período reservado ao debate registaram-se intervenções e participações da presidente do Conselho do Colégio de Especialidade de Análises Clínicas e de Genética Humana da OF, presidente da Associação Portuguesa de Analistas Clínicos, do presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, da presidente da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos, e do presidente da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia, entre muitos outros farmacêuticos que tiveram oportunidade de expressar a sua visão sobre o setor das Análises Clínicas em Portugal e apresentar ideias e propostas para valorização e diferenciação da intervenção dos farmacêuticos neste domínio.
Os desafios da profissão no setor público estão relacionados com a abertura de vagas para a Residência Farmacêutica nos ramos das Análises Clínicas e da Genética Humana e na sensibilização das administrações hospitalares e direções dos Serviços de Patologia Clínica para a diferenciação profissional dos farmacêuticos especialistas, que devem também poder aceder às direções de serviço em total equiparação com médicos patologistas clínicos.
A atividade dos farmacêuticos analistas clínicos tem acompanhado a evolução exponencial da tecnologia e técnicas laboratoriais, que hoje implicam novas rotinas laboratoriais e requerem um desenvolvimento profissional contínuo, que deve ser valorizado pelo mercado de trabalho e reconhecido pelos utentes.
O setor privado tem vindo a abarcar uma variedade de profissionais com múltiplas formações, contudo, as qualificações dos farmacêuticos analistas clínicos e dos farmacêuticos especialistas em Análises Clínicas asseguram competências diferenciadas, desde logo na integração clínica dos resultados laboratoriais.
Com um Mestrado Integrado ministrado em Instituições de Ensino Superior, especialização em Análises Clínicas ou Genética Humana, através da Residência Farmacêutica ou conferida pela OF, a intervenção dos farmacêuticos na área analítica apresenta elevada abrangência e preponderância, assumindo responsabilidades diferenciadas na validação dos resultados laboratoriais.
Entre outras valências, os farmacêuticos analistas clínicos apresentam qualificações diferenciadas em áreas como a Biologia Molecular, Genómica, Proteómica, Farmacogenómica, Medicina Personalizada, Preditiva, de Precisão ou na Nanotecnologia.
Entre os participantes foi consensual a necessidade de envolver as Faculdades de Farmácia no esforço de revitalização do ramo das Análises Clínicas, na formação pré-graduada e pós-graduada dos farmacêuticos, ajustando currículos e adotando matérias valorizadas no meio profissional. No caso específico da formação e desenvolvimento profissional contínuo, foram identificadas áreas concretas com necessidades formativas específicas, que devem ser impulsionadas através de programas de formação pós-graduada especificamente dirigidos a farmacêuticos.
O desenvolvimento da profissão neste ramo de atividade está também dependente do crescimento do número de estudantes e jovens farmacêuticos que optam por esta via de especialização, sendo imprescindível o reforço da comunicação junto das faixas etárias mais novas sobre as valências e saídas profissionais dos farmacêuticos analistas clínicos. Neste domínio foi também reforçado o apelo para os laboratórios clínicos privados acolherem jovens estudantes do MICF, dinamizando assim um uma prática instituída em alguns laboratórios do país.
Houve ainda lugar para a discussão sobre a aplicação do Manual de Boas Práticas Laboratoriais e aspetos relacionados com o licenciamento e inspeção dos laboratórios clínicos. A regulamentação do setor deve também garantir a responsabilidade e a autonomia dos profissionais qualificados, de que a exigência de um quadro mínimo de farmacêuticos em laboratórios convencionados pode ser apenas um exemplo.
No final do encontro, após a leitura de algumas conclusões pelo membro da Direção Nacional da OF, Rui Pinto, o bastonário assumiu o compromisso de “integrar as conclusões do encontro na estratégia de intervenção da instituição para valorização das competências dos farmacêuticos analistas clínicos”.
Helder Mota Filipe lembrou que “as profissões evoluem” e que “devem fazer este exercício de reflexão sempre que a situação se justifica”. O resultado deste trabalho deve ajudar os farmacêuticos analistas clínicos a adquirir e desenvolver novas competências, que a formação pré-graduada não assegura, e que o mercado de trabalho procura, reconhece e valoriza.
Para o bastonário, a OF deve lutar por garantir as melhores condições para os profissionais que representa servirem a sociedade. “As Análises Clínicas têm futuro. Não podemos perder mais tempo”, rematou o bastonário.