O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos entre 2001 e 2007, José Aranda da Silva, foi distinguido ontem pela Universidade do Porto (U.Porto) com a atribuição do título Doutor Honoris Causa, por proposta da Faculdade de Farmácia (FFUP). A cerimónia foi presidida pelo reitor da U.Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, e contou também com a participação do diretor da FFUP, José Manuel Sousa Lobo, como padrinho do doutorando. O elogio do homenageado esteve a cargo do professor da FFUP e antigo vice-reitor da U.Porto, Jorge Gonçalves.
A homenagem da U.Porto é justificada “qualidade excecional
do percurso profissional” e “extensa obra publicada”, mas muito especialmente
pela colaboração que José Aranda da Silva tem mantido com a Faculdade de
Farmácia, em particular com os laboratórios do Departamento de Ciências do
Medicamento, que “muito tem contribuído para o reforço das ligações da
Faculdade à sociedade e para a sua afirmação a nível nacional e internacional”,
refere a nota da U.Porto.
No elogio proferido pelo docente da FFUP, foi explicado que
“o itinerário biográfico do Dr. Aranda da Silva assenta numa carreira técnico
profissional repleta de feitos notáveis, mas está complementado com uma
contínua militância cívica na defesa da causa pública e de combate pela
liberdade, o que o torna o Dr. Aranda da Silva numa personalidade de exceção
dos nossos tempos”.
Jorge Gonçalves considerou “justa e sábia” a decisão da
U.Porto de conceder o título José António Aranda da Silva, “por tal ser a forma
digna e justa da Universidade do Porto reconhecer um dos seus alumni que tanto
a tem prestigiado”.
José Aranda da Siva sublinhou o sentimento de “grande honra”
por receber esta distinção. “Foi nesta Universidade que me licenciei em
Farmácia, foi nesta Universidade e na Cidade do Porto que vivi os momentos mais
intensos da minha vida, que me casei e tive o primeiro filho. Foi nesta cidade
e nesta Universidade que desempenhei, enquanto jovem, intensa atividade cívica
e política”, disse o homenageando.
“O título que me é atribuído resulta de um longo percurso
académico, profissional e cívico que só foi possível pela formação a que tive o
privilégio de aceder e pelo apoio ao longo da vida de numerosas pessoas”,
acrescentou, lembrando vários momentos e pessoas determinantes na sua vida.
Aranda da Silva apontou, durante o seu discurso, alguns
desafios que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) atualmente enfrenta,
designadamente o seu subfinanciamento crónico, mas também sobre a necessidade
de reflexão sobre o seu futuro, que, em sua opinião deve “investir mais na
prevenção e promoção da saúde em articulação com o Sistema de Segurança Social
e Sistema Educativo”.
Para o ex-presidente do Infarmed, o SNS não deve ficar
dependente dos ciclos políticos. “Temos de procurar novas formas
organizacionais que permitam a integração dos diversos níveis de cuidados de
saúde tornando mais fácil a ´navegabilidade´ do cidadão no sistema de saúde,
tornando-o mais acessível e mais eficiente”, defende.
Aranda da Silva considera que “os farmacêuticos, através da
sua qualificação académica e proximidade da população estão em excelentes
condições para dar um importante contributo para a mudança”, lembrando que
“diariamente mais de 400 mil cidadãos contactam com os farmacêuticos
portugueses, quatro vezes mais dos que os que acedem todos os dias ao SNS nas
consultas e diversos níveis e serviços de urgência”.
Por isso, o ex-bastonário da OF considera “inaceitável” o
SNS desperdiçar a qualificação, tecnologia e acesso que os farmacêuticos
disponibilizam ao país”. No entanto, sublinhou, “esta mudança também tem de
passar pela alteração do sistema de remuneração das farmácias, de forma a não
ficarem totalmente dependentes de margens comerciais associadas à dispensa de
medicamentos”.
“A capacidade técnica e científica dos farmacêuticos tem de
ser colocada ao serviço do sistema de saúde e do SNS através de maior número de
programas estruturados de promoção da saúde e prevenção da doença com parcerias
concretas com entidades públicas e privadas”, disse ainda.
A sua intervenção terminou com um apelo a uma utilização
adequada e integrada dos recursos farmacêuticos – farmácias e laboratórios de
análises clínicas, principalmente, enquanto estruturas de proximidade, – nos
programas de saúde do SNS.