O Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF) visitou ontem os Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), situados no antigo Hospital Eduardo Santos Silva, em Gaia, para conhecer as instalações, condições de funcionamento e os recursos técnicos e humanos afetos às atividades da farmácia hospitalar. “Não são uns Serviços Farmacêuticos, são um armazém onde as pessoas se movimentam por entre caixas para tentar desempenhar as suas funções. Não há efetivamente condições para que os profissionais possam desempenhar as suas funções de um modo competente”, disse o presidente do SNF no final da visita.
Em declarações à comunicação social, o dirigente sindical considerou
que “há, efetivamente, muito a fazer, muito a mudar” nos Serviços Farmacêuticos
do CHNVG/E.
“Não compreendo como é que houve uma inspeção do Infarmed
há cerca de quatro anos, em que foram identificadas anomalias graves, e durante
estes quatro anos não houve qualquer reinspeção ou qualquer reavaliação para
ver se efetivamente as condições tinham mudado”, lembrou. “O que podemos
verificar foi que houve em abril uma alteração relativamente à farmácia de
ambulatório, que tem novas instalações, mas todo o resto dos serviços
farmacêuticos necessita de ser alterado”, revelou ainda.
“Não há hoje em dia razões para que haja serviços
farmacêuticos neste país a trabalhar nestas condições”, lamentou o dirigente
sindical. “Enquanto os profissionais que trabalham nos serviços farmacêuticos
fizerem milagres, não haverá problemas de segurança, mas os milagres não
acontecem 365 dias por ano, podem acontecer em 364 e, nessa altura, toda a
gente irá ignorar os 364 dias e lembrar o dia 365 em que efetivamente algo
falhou”, lembrou o presidente do Sindicado.
De acordo com as informações que o Conselho de Administração
transmitiu a este responsável, o hospital vai efetuar alterações ao funcionamento
da farmácia no próximo ano. “A perspetiva que nos deram foi de alguma alteração
já para 2020. Com a finalização de umas obras que libertarão a área da
Urgência, os Serviços Farmacêuticos transitam para essas novas instalações”, explicou.
Embora o Hospital de Gaia seja considerado “um caso
extremo”, porque alia a falta de condições físicas à carência de recursos
humanos, o presidente do Sindicato sublinha que se trata de “um problema
nacional” e alerta para “uma extrema carência de profissionais nos Serviços Farmacêuticos
hospitalares de todo o país”.
O dirigente sindical espera que a situação seja invertida
com a publicação da Residência Farmacêutica e conclusão do processo de regulamentação
da Carreira Farmacêutica no Serviço Nacional de Saúde. “Há um diploma do
Governo que está negociado desde março e que o prazo de discussão pública
terminou agora, no dia 20, mas que é essencial que seja publicado ainda antes
do fim desta legislatura. Trata-se do diploma de residência farmacêutica que
legisla o modo como os farmacêuticos vão fazer a sua formação de especialidade
para depois poderem ser contratados”, explicou.
Para o SNF, a conclusão deste processo legislativo é determinante
e cada vez mais urgente, “para que ainda em 2020 possamos ter farmacêuticos a
fazer a sua formação nas instituições de saúde e depois serem normalmente ser
incorporados nas unidades que deles necessitam”, concluiu.
A visita do SNF ocorre após várias notícias vindas a público
sobre constrangimentos na atividade dos Serviços Farmacêuticos do CHVNG/E. Em
março, a Comissão de Saúde ouviu a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e
vários diretores de Serviços Farmacêuticos hospitalares para analisar a real
situação das farmácias hospitalares (vídeo).
Entre estes responsáveis estava a diretora dos Serviços
Farmacêuticos do CHVNG/E, Aida Baptista, entretanto demissionária, que
denunciou e apresentou provas da degradação das condições de funcionamento dos
Serviços Farmacêuticos, alertando também para o impacto na segurança dos
tratamentos que são administrados aos doentes.
As preocupações manifestadas na altura pelos deputados
da referida Comissão ficaram materializadas nos projetos de diploma entretanto
apresentados pelos grupos parlamentares do BE,
CDS-PP,
PSD
e PCP
(e aprovados na generalidade no início de julho), recomendando, todos eles, um
reforço do investimento nas farmácias hospitalares.