Ao longo das últimas semanas, a OF e a Secretaria Regional da Saúde desenvolveram contactos para apresentar uma solução que assegure assistência e cobertura farmacêutica nas nove ilhas do arquipélago, ao nível dos cuidados de saúde primários e dos cuidados continuados integrados, onde as carências de cuidados farmacêuticos são mais evidentes, deixando sem assistência, na área do medicamento, a grande maioria dos profissionais de saúde que aí trabalham, bem como os utentes que utilizam estes serviços.
A OF considera que as ruturas e carências pontuais de alguns medicamentos nas unidades de saúde do SRS, para os quais existem, na maioria das vezes, alternativas terapêuticas, seriam drasticamente minimizadas com uma reorganização de todo o circuito do medicamento, tal como preconizado na referida proposta.
Até à data, as Unidades de Saúde de Ilha do Corvo, Faial, Graciosa, Pico, Santa Maria e Terceira e, até há bem pouco tempo, também a de S. Miguel, continuavam sem a presença de qualquer colaborador farmacêutico nos seus quadros, estando a gestão do medicamento a cargo de outros profissionais não qualificados para o efeito.
O circuito do medicamento no SRS tem especificidades que o diferenciam da realidade do continente, essencialmente pela vocação de internamento, de doentes agudos e crónicos, na maioria das Unidades de Saúde de Ilha e Centros de Saúde. Estas unidades de saúde estão dotadas de infraestruturas e serviços em que é utilizado um vasto arsenal terapêutico, muito semelhante ao hospitalar, de uso restrito, com especificações estritas e risco elevado.
No panorama atual, existe também uma grande dispersão de locais onde são armazenados os medicamentos administrados aos doentes assistidos nestas unidades e continuam a verificar-se importantes lacunas nos processos de registo e rastreabilidade destes fármacos, colocando em causa a sua utilização segura e conduzido, muitas vezes, a relevantes desperdícios.
Os escassos exemplos de cobertura farmacêutica nos centros de saúde dos Açores já mostraram a relevância da intervenção do farmacêutico na gestão do circuito do medicamento e dos dispositivos médicos, através da melhoria exponencial dos índices relacionados com a segurança, eficácia, rastreabilidade, económicos e logísticos.
A implementação estruturada de Serviços Farmacêuticos ao nível dos cuidados de saúde primários, dirigidos por farmacêuticos especialistas em Farmácia Hospitalar, tal com é exigido legalmente, e com um quadro de profissionais experiente, potenciaria ganhos de eficiência muito elevados, tanto ao nível de cuidados, como ao nível da despesa total com medicamentos do SRS.
A OF continuará a colaborar com a Direção Regional de Saúde na avaliação das necessidades de cobertura farmacêutica nas Unidades de Saúde de Ilha, bem como das infraestruturas de apoio ao circuito do medicamento nestas unidades.
A recente criação da Carreira Farmacêutica, nos Serviços Nacional e Regionais de Saúde, contribuirá também para a garantia da contratação de novos profissionais farmacêuticos, com qualificações e competências adequadas, essenciais para uma reforma do circuito do medicamento nestas unidades, e cujo objetivo último será a garantia da segurança, qualidade e eficácia dos medicamentos e dispositivos médicos utilizados pelos serviços públicos de saúde da Região Autónoma dos Açores.