“Além do médico, enfermeiro, assistente social, nutricionista, que são profissionais que já estão na enfermaria a prestar cuidados aos doentes, faria todo o sentido – e está a acontecer noutros sistemas de saúde – termos o farmacêutico para fazer conciliação terapêutica, para ajustar doses”, defende o representante dos administradores hospitalares.
A apresentação do trabalho realizado pela APAH decorreu no
dia 18 de novembro, numa sessão que registou a participação da farmacêutica
hospitalar Helena Catarino, membro do Conselho do Colégio de Especialidade de
Farmácia Hospitalar da OF.
A representante dos farmacêuticos integrou o painel de
comentadores às conclusões do estudo, do qual fez também parte o presidente do
Infarmed, Rui Santos Ivo.
Helena Catarino reiterou a relevância das funções dos
farmacêuticos hospitalares para garantia da qualidade e do acesso aos
medicamentos em ambiente hospitalar. Destacou particularmente as
responsabilidades das Comissões de Farmácia e Terapêutica e articulação entre
hospitais e com o Infarmed para resolver problemas de ruturas de medicamentos.
Na sua opinião, os farmacêuticos estão sobrecarregados
com tarefas e funções do foro administrativo, que impedem a generalização de outros
serviços e valências, como a Consulta Farmacêutica. Pese embora todo o trabalho
da OF com os Serviços Partilhados Ministério da Saúde, muitos farmacêuticos
ainda não podem escrever as suas notas no processo clínico dos utentes, o que
impede a partilha de informação útil com outros profissionais envolvidos na prestação de cuidados aos doentes.
Helena Catarino deu ainda como exemplo a dispensa de
medicamentos hospitalares em proximidade, assegurando o compromisso de
farmacêuticos hospitalares e comunitários na manutenção da segurança,
integridade e informação ao utente sobre a medicação prescrição.
A farmacêutica hospitalar realçou também o trabalho
desenvolvido pela OF no desenvolvimento e reconhecimento de novas Competências
Farmacêuticas.
Em declarações à comunicação social à margem do evento, o
presidente da APAH sublinhou o papel nuclear dos farmacêuticos nas equipas de
saúde. “Para além de termos o médico, enfermeiro, assistente social,
nutricionista, que são profissionais que já estão na enfermaria a prestar
cuidados aos doentes, faria todo o sentido – e está a acontecer outros sistemas
de saúde – termos o farmacêutico para fazer conciliação terapêutica, para
ajustar doses”, defendeu.
“Não existe nenhuma razão para que isso não aconteça no
nosso sistema de saúde e nós queremos que a tutela atente nesta questão e que
reforce os serviços farmacêuticos”, acrescentou.
O presidente da APAH considera que o farmacêutico tem “uma
intervenção fundamental na reconciliação terapêutica”, explicando que Consulta
Farmacêutica pode ajudar esclarecer os utentes sobre os medicamentos e dosagens
que deve tomar, analisar eventuais interações e ajustar de acordo com a
medicação prescrita em ambulatório e no hospital.
O Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar revela
as ruturas de medicamentos ocorrem de forma regular em 73% das instituições:
32% são afetadas por ruturas mensais, 23% semanais e 18% diárias.
Em 27% dos casos, as ruturas dizem respeito a medicamentos
genéricos. A grande maioria dos hospitais (86%) tem um departamento, núcleo ou
pessoa responsável por solucionar os problemas relacionados com as ruturas, mas
só em 27% é avaliado o impacto destas ruturas.
A maioria dos hospitais que responderam confessa que não faz
comparações efetivas entre terapêuticas, em contexto de doentes em tratamento
na instituição. Apenas 18% disse fazer uma recolha sistemática de dados sobre a
qualidade de vida dos doentes que tomam determinado medicamento.
A carga administrativa é a principal barreira ao acesso ao
medicamento nos hospitais portugueses, que apontam ainda a falta de recursos
para cumprir as regras de contratação pública, indica o estudo. O processo de
aquisição via SPMS e o modelo de financiamento dos medicamentos foram outras
das barreiras apontadas pelos hospitais ao acesso ao medicamento.
Os dados recolhidos junto das unidades hospitalares do SNS
mostram ainda que apenas 27% dos que responderam têm consulta farmacêutica,
sendo que, nestes, ela existe “apenas para alguns doentes”. As características
do doente, a patologia e a terapêutica são os principais critérios de seleção
dos doentes para a consulta farmacêutica.