Os dados apurados pelo CJF apontam para uma diminuição da proporção de farmacêuticos jovens a entrar na profissão e um aumento de farmacêuticos mais perto da idade de reforma. Desde 2016, regista-se um decréscimo do número de farmacêuticos da faixa etária 26-30 que opta pela profissão e inscrição na OF, contrastando com um ligeiro crescimento das vagas de acesso ao Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, o que pode sugerir uma menor atratividade para o exercício da profissão com inscrição na Ordem e mudanças de carreira entre os profissionais mais jovens.
As áreas da Indústria Farmacêutica e Farmácia Comunitária apresentam uma pirâmide demográfica jovem, com maior atratividade para o exercício e proximidade com a Ordem. Pelo contrário, as áreas da Farmácia Hospitalar, Análises Clínicas e Distribuição estão em declínio relativo, com um número de farmacêuticos a aproximar-se da idade da reforma superior ao grupo em início de carreira com registo na Ordem. De acordo com os resultados apurados, o ponto crítico de substituição geracional varia com a área profissional, tendo já sido atingido em Análises Clínicas, no início do milénio, e estima-se que atinja também a Farmácia Hospitalar e a Distribuição dentro de 7 e 5 anos, respetivamente.
O CJF considera importante compreender estas mudanças para o planeamento da força de trabalho farmacêutica, para a qualificação e formulação de políticas no setor da saúde. No entanto, alertam que este trabalho incidiu sobre os dados até final de 2022, pelo que é importante analisar o efeito da Carreira/Residência Farmacêutica a partir de 2023.
A Farmácia Comunitária continua a ser o pilar central para o início e reingresso na profissão e na Ordem. É também a área com maior êxodo para as restantes áreas farmacêuticas. Após aquisição de experiência em Farmácia Comunitária, muitos farmacêuticos procuram especializações em áreas como Indústria Farmacêutica e Farmácia Hospitalar, o que indicia uma preferência por uma maior diferenciação da atividade profissional.
A Farmácia Hospitalar tem sido um polo atrativo para farmacêuticos de outras áreas clássicas da profissão, como Análises Clínicas e Farmácia Comunitária. A área também se destaca como um dos principais focos de reingresso na atividade farmacêutica.
Este trabalho do CJF debruça-se ainda sobre o potencial de especialização entre os farmacêuticos, particularmente aqueles com idade inferior a 40 anos, evidenciando uma clara oportunidade para reforçar o corpo de especialistas na profissão, principalmente em Farmácia Comunitária, mas também nas restantes especialidades farmacêuticos, sublinhando-se a necessidade de reforçar a proximidade entre as especialidades e os farmacêuticos em início de carreira, com o propósito de atrair e reter talento nestas especializações críticas, garantindo assim a evolução e a excelência do setor farmacêutico em Portugal.
Em cada capítulo deste relatório são apresentadas recomendações contextualizadas, que incidem sobre a atualização de dados dos farmacêuticos, sobre a caraterização e transição entre áreas profissionais, sobre a informação disponibilizada pelas faculdades de farmácia e a sobre promoção das especialidades farmacêuticas.
Consulte em anexo os resultados do estudo do CJF
Recomendação 1:
Promover o agrupamento e hierarquização das áreas profissionais, com controlo na criação através de procedimentos e de critérios para atribuição de nível de hierarquia.
Recomendação 2:
Promover a redução em 50% da quantidade de farmacêuticos que não atualizaram a sua informação nos últimos 5 anos, em particular nos casos de área ‘não exerce’ e ‘não indicado’.
Recomendação 3:
Criar um envio periódico de notificação para confirmação da informação atual ou atualização, por forma a que se contabilize também como tendo atualizado a informação casos em que o registo se mantém atual.
Recomendação 4:
Promover uma ligação com os finalistas de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, antes do estágio final, salientando a importância da inscrição na OF para efeitos de reconhecimento mútuo nas congéneres internacionais e reingresso nacional futuro, tendo em vista aumentar a inscrição na OF imediatamente após a conclusão do curso.
Recomendação 5:
Identificar os principais destinos dos farmacêuticos em início de carreira a nível internacional e clarificar a possibilidade de isenção de quotizações imediatamente no ato da inscrição para exercício no estrangeiro.
Recomendação 6: Caracterizar as áreas de exercício dos farmacêuticos com suspensão voluntária a exercer em território nacional e estabelecer um mecanismo de renovação periódica, simples e necessária da situação de suspensão voluntária.
Recomendação 7:
Promover inquéritos direcionados à geração 26-30 para aferir os determinantes de atratividade da profissão, designadamente a satisfação no trabalho, reconhecimento da diferenciação profissional, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal ou incentivos.
Recomendação 8: Obter os dados de conclusão do MICF por ano a nível nacional para aferir a tendência que os dados comparativos com as vagas de acesso aparentam demonstrar (menor atratividade curso-profissão).
Recomendação 9:
Promover inquéritos direcionados aos farmacêuticos com transição de área profissional nos últimos 5 anos para compreender as motivações e prioridades que levam à mudança e mapear os determinantes de transição.
Recomendação 10:
Identificar os fatores críticos de mudança de área profissional em Farmácia Hospitalar, por forma a prevenir o ponto crítico de transição demográfica e focar o aspeto comparativo da atratividade entre setores público e privado, e as respetivas consequências para o SNS.
Recomendação 11:
Promover condições favoráveis e incentivos diferenciados à especialização dos farmacêuticos sub40 elegíveis para Especialidade nas diversas áreas, assim como suporte especializado na progressão de carreira, em particular para funções específicas do ato farmacêutico.
Recomendação 12:
Reforçar a ligação das Especialidades aos ‘pré-especialistas’ (farmacêuticos elegíveis para a especialidade ou em exercício na área).