Tendo conhecimento da indisponibilidade destes testes no mercado nacional, a jornalista deslocou-se a várias farmácias para, não se identificando, interpelar farmacêuticos e filmar disfarçadamente as respostas dos profissionais a uma solicitação de apoio na aquisição dos referidos dispositivos. Entre as perguntas, indagava sobre vias alternativas para a sua aquisição.
Independentemente do enquadramento jurídico para esta prática, a utilização regular e generalizada destas ferramentas por profissionais da comunicação social é reveladora de má-fé na relação com as suas fontes, e como tal claramente questionável no plano ético e deontológico.
Esta prática fere princípios como o do direito à imagem, honra e bom nome, salvaguardo na legislação em vigor que trata da proteção de dados. Mesmo evocando o interesse público em diferentes matérias, parece também questionável a divulgação, sem o devido consentimento informado dos visados, de imagens de atos profissionais que se revestem de algum sigilo e que não representam qualquer ilegalidade.
Para a Ordem dos Farmacêuticos, o que a referida reportagem demonstra é a disponibilidade dos farmacêuticos para apoiar uma “utente” que usa um discurso indutor do erro. Qualquer má prática resultante de uma abordagem desta natureza (que no caso nem se verificou) terá sempre como atenuante a má-fé de quem a induziu.
Sem menosprezar a importância social e histórica das ilegalidades detetadas com esta prática jornalística, sabemos que a probabilidade na sua ocorrência é diretamente proporcional ao tamanho da amostra, independentemente dos profissionais e dos setores de atividade em causa.
A Ordem dos Farmacêuticos, as farmácias e os farmacêuticos estão cientes da importância da comunicação social na informação e educação para a saúde da população, motivo pelo qual têm manifestado sempre disponibilidade para responder aos pedidos de esclarecimentos dos jornalistas, para captação de imagens ou declarações, entre outros, numa relação de confiança recíproca que não deveria ser beliscada por este tipo de episódios. Estes servem, porém, para alertar os farmacêuticos portugueses para uma prática jornalística insidiosa, que busca o erro ou o provoca por meios ínvios.
A Ordem dos Farmacêuticos condena este tipo de jornalismo e dele dará conhecimento à SIC, na pessoa do seu diretor de informação, Ricardo Costa, bem como à Entidade da Reguladora da Comunicação Social e à Comissão da Carteira Profissional de jornalistas.
Lisboa, 26 de março de 2021.