Segundo o estudo, cerca de 6,4% dos portugueses que fazem terapêutica regular tomam medicamentos de dispensa exclusiva em farmácia hospitalar. Desses, a maioria (85,7%) levanta os medicamentos no hospital onde tem consultas, mas 14,3% levantam num outro hospital. Em média, cada doente faz 7,6 deslocações ao hospital por ano para levantamento dos medicamentos, sendo que cada ida ao hospital tem um custo de 14,30 euros para o utente e representa 5h27de tempo despendido (4h10 do tempo gasto nas deslocações e 1h17 de tempo de espera no hospital).
Somando o custo total das idas dos doentes ao hospital (36 milhões de euros) com o valor económico do tempo despendido (149 milhões de euros), a dispensa de medicamentos tem um custo anual de 185 milhões de euros na ótica do utente. O estudo estimou também o valor económico do tempo despendido por parte do hospital avaliado em 14 milhões de euros, considerando apenas a entrega de medicamentos e 30 minutos por entrega (exclui custos indiretos). No total, a dispensa de medicamentos em farmácia hospitalar tem um custo anual de 199 milhões de euros para utentes e hospitais.
“Estes dados mostram que há oportunidade de tornar o sistema mais flexível, produtivo e sustentável. Nos últimos meses, por uma necessidade decorrente da crise pandémica, tornou-se evidente que é possível retirar dos hospitais algumas atividades, nomeadamente a dispensa de medicamentos, e consequentemente reduzir a pressão sobre os mesmos. Uma mudança de paradigma que pode reduzir custos para os utentes e para os hospitais, mas também melhorar o acesso dos doentes aos medicamentos e fomentar uma maior proximidade entre os serviços de saúde e os utentes”, explica Pedro Simões Coelho, professor da NOVA IMS e coordenador do Índice de Saúde Sustentável.
Quanto à evolução do índice que avalia a sustentabilidade do SNS, verificou-se uma ligeira descida dos 102,9 para os 101,7, em parte explicada pela estabilização da atividade e o aumento da despesa (6,1%), que continua a ser superior ao financiamento. Apesar desta ligeira queda no indicador, o estudo realça também alguns pontos positivos como a diminuição da dívida vencida em 20% e do deficit em -8,5%. Regista igualmente um aumento significativo da qualidade dos serviços de saúde percecionada pelos cidadãos (+4,6 pontos face ao ano anterior).
O estudo revela ainda que mais de metade do valor investido no SNS em 2019 retornou, no próprio ano, para a economia. A prestação de cuidados de saúde através do SNS permitiu evitar a ausência laboral em 2,8 dias e perdas em produtividade equivalentes a 6,4 dias de trabalho por indivíduo, possibilitando assim uma poupança total de 3,6 mil milhões de euros. Considerando o impacto dessa poupança por via dos salários e a relação entre a produtividade/remuneração do trabalho (valores referência do INE), é possível concluir que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno para a economia que ronda os 5,4 mil milhões de euros.
Pelo segundo ano consecutivo, o estudo desenvolveu também um índice de atuação preferencial, que resulta da avaliação que os utentes fazem dos determinantes da qualidade dos cuidados de saúde e da importância que atribuem a cada um deles.
Com uma avaliação de 80,4 numa escala de 1 a 100, a qualidade dos profissionais de saúde é, na ótica dos utentes, o ponto mais forte do SNS e um ponto que deve ser valorizado. Por outro lado, a facilidade de acesso aos cuidados (60,8 pontos) e os tempos de espera entre a marcação e a realização de atos médicos (54,5 pontos) são encarados como os dois aspetos mais negativos. Desta análise, resultou um índice de atuação preferencial, que estabelece áreas prioritárias: qualidade dos profissionais de saúde (38%), tempos de espera entre a marcação e a realização de atos médicos (33%), qualidade da informação fornecida pelos profissionais (11%), infraestruturas/equipamentos (10%) e facilidade de acesso aos cuidados (8%).
“Uma vez mais, o Índice de Saúde Sustentável demonstra o impacto positivo do investimento em Saúde e a necessidade de um SNS forte e sustentável, capaz de dar resposta aos utentes a longo prazo. Mostra também ser capaz de capitalizar os investimentos efetuados num reforço da qualidade dos serviços oferecidos aos cidadãos. Estes resultados, são aliás confirmados pela observação da atual atuação do sistema no quadro da crise pandémica. Esta é também uma oportunidade para aprender com o que correu bem, repensar algumas componentes do nosso sistema de saúde, e procurar inovar, para que possa sair deste episódio fortalecido”, conclui Pedro Simões Coelho.
Iniciada em 2014, a parceria entre a biofarmacêutica AbbVie e a NOVA-IMS resultou na criação do primeiro índice capaz de quantificar a sustentabilidade do SNS, através da análise de dimensões como a atividade, a despesa, a dívida e a qualidade (técnica e percecionada). O estudo Índice de Saúde Sustentável procura ainda compreender os contributos económicos e não económicos no SNS, conhecer o impacto dos custos de utilização do sistema no nível de utilização do mesmo e identificar pontos fortes e fracos do SNS, bem como possíveis áreas prioritárias de atuação.
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