Maria do Céu Patrão Neves explicou que este projeto de capacitação atua em três dimensões – jurídica, institucional e profissional – e tem como objetivo aumentar a atratividade dos países lusófonos para a indústria farmacêutica internacional. Trará também benefícios quer económicos quer sociais, como a criação de serviços, o reforço da comunidade científica ou a redução do brain drain.
“Este projeto visa criar as condições necessárias para que os ensaios clínicos se realizem nestes países, de forma que os benefícios fiquem nestes próprios países e de forma a torná-los atraentes para a indústria farmacêutica internacional”, disse ainda.
A coordenadora do projeto salientou que Moçambique está na dianteira da investigação biomédica em temas como a malária e acrescentou que “seja a malária, seja outras doenças como a dengue, a tuberculose, seja outros problemas de saúde pública que não doenças infectocontagiosas como, por exemplo, a má nutrição das crianças, a gravidez prematura, a morte de mulheres grávidas – que é 130 vezes superior em África em relação aos países ocidentais – todos estes aspetos podem beneficiar da investigação biomédica.”
Patrão Neves destacou, ainda, as condições de excecionalidade do continente africano: “África apresenta-se para a indústria farmacêutica como um continente extraordinariamente atraente – tem uma população muito jovem e é uma população que ainda não participou muito ensaios clínicos, tem patologias diferentes do resto do mundo.”
Esta parceria agora celebrada entre estes 6 países (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Portugal), permitirá a “harmonização legislativa” e a “harmonização de procedimentos”, possibilitando assim uma “economia burocrática”. A consensualização de um único protocolo de ensaios clínicos, sem baixar os requisitos de segurança e ético-jurídicos, poderá colocar os países da lusofonia em pé de igualdade com os países anglo-saxónicos ou francófonos que pela questão da língua tendem a ser favorecidos na realização de ensaios clínicos.
Nas notas finais, referiu que “a indústria farmacêutica prefere países com regras apertadas, claras e rigorosas, porque isto coloca também em risco o seu investimento. Seria um engano avançarmos para soluções facilitistas e simplificadoras como meio para atrair a indústria farmacêutica. Este é o caminho errado. O caminho certo é legislação robusta, exigências claras.”
A entrevista, na íntegra, está disponível aqui.