A Campanha de Vacinação Sazonal contra a Gripe e a COVID-19 no outono-inverno 2023-2024 está a registar uma cobertura vacinal inferior a anos anteriores, numa tendência transversal a quase todos os países, que é justificada com a fadiga vacinal da COVID-19, com impacto também na gripe, e com uma diminuição da perceção de risco associado.
Em Portugal, a estratégia para minimizar esta tendência assenta
em três eixos: no alargamento do número de pontos de vacinação; no alargamento das
faixas etárias incluídas na vacinação gratuita; e numa campanha de comunicação
e sensibilização da população portuguesa para a importância da vacinação.
A cerca de dois meses do fim da campanha de vacinação, os
números da Direção-Geral de Saúde (DGS) confirmam uma redução da cobertura
vacinal entre população portuguesa, mesmo no contexto de convocatória ativa e
personalizada dos cidadãos com menos de 60 anos elegíveis para vacinação pelas
unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
De um universo de mais de 4 milhões de vacinas contra a
gripe e COVID-19 administradas desde o início da campanha, cerca de 70% foram
administradas nas farmácias comunitárias, onde mais de 7.000 farmacêuticos têm
atualmente a Competência Farmacêutica em Administração de Vacinas e
Medicamentos Injetáveis ativa, ou seja, mais 25% de farmacêuticos habilitados a administrar vacinas do que no final do ano anterior.
Os farmacêuticos têm assumido assim um papel determinante na
redução de um risco real e previsível de queda acentuada nos níveis de vacinação,
mas que, ainda assim, estão dentro dos valores previstos pela DGS no início da
campanha.
A Direção-Executiva do SNS considera que “as medidas tomadas
conseguiram assegurar boas taxas de vacinação, contrariando os cenários mais
pessimistas” e destaca que o país “se tornou num caso exemplar de boas
práticas, que se irá manter no futuro e que se poderá replicar em outros países
europeus”.
A campanha deste ano teve também o objetivo de voltar a
colocar o SNS na liderança do processo de vacinação, que esteve alocado aos
militares e assente em grandes centros de vacinação. A estratégia teve por base
as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção
e Controlo das Doenças, que identificaram a disponibilidade física, os custos
para o utente, a proximidade geográfica e as campanhas de vacinação como
determinantes estruturais para a vacinação.
Neste contexto, a integração da rede nacional de farmácias
comunitárias na campanha de vacinação deste ano permitiu alargar o número de
postos de vacinação (de 700 para 3.000), mas também proximidade e disponibilidade
para vacinação dos cidadãos em horários alargados.
Por outro lado, ao abranger cidadãos a partir dos 60 anos na
vacinação gratuita (ao invés dos 65 anos), alargou-se o acesso a mais 600 mil
portugueses e aumentou-se a cobertura vacinal de toda a população com mais de 60
anos da campanha, que, segundo a DGS, está nos 62,4%, algumas décimas acima da
campanha anterior.
Embora seja ainda prematuro retirar conclusões sobre a
presente campanha, parecem inquestionáveis os ganhos de acesso, comodidade e
disponibilidade proporcionados pela integração das farmácias e dos
farmacêuticos comunitários.
Mesmo comparando os resultados nacionais com alguns
congéneres europeus, verifica-se que as coberturas vacinais contra a gripe e a
COVID-19 em Portugal são superiores, por exemplo, a países como Espanha e França.