A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Ana Paula Martins, defendeu ontem, durante a conferência “Recuperar a Saúde, Já!”, organizada pela Convenção Nacional da Saúde (CNS), a construção de um “ecossistema de saúde de valor acrescentado”, em coordenação com os setores privado e social, capaz de responder aos desafios atuais e futuros da sociedade. A representante dos farmacêuticos, e vice-presidente da CNS, defende um “plano de ação claro, objetivo e realista”, que permita conhecer com exatidão os atrasos e carências do sistema de saúde, visando a recuperação imediata da assistência aos portugueses.
A conferência da CNS juntou bastonários das Ordens profissionais da área da Saúde e representantes de várias instituições públicas, privadas e do setor social, que integram a Convenção, para uma reflexão sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na atividade assistencial.
O evento realizado no auditório da Associação Nacional das Farmácias contou com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, e do presidente do Conselho Económico e Social, Francisco Assis, entre outras personalidades e convidados.
Intervindo no final da conferência, a bastonária da OF sublinhou o “momento difícil” que o país enfrenta, com os cidadãos “exaustos após quase dois anos de luta contra a pandemia de COVID-19 e inquietos com o atraso acumulado na resposta às demais doenças”.
“Milhões de consultas, exames e tratamentos ficaram por fazer, agravando de forma substancial a saúde dos portugueses, o bem-estar da população”, salientou. “Já não falamos só de listas de esperas maiores ou menores como no período pré-COVID. Agora falamos de uma avalanche de casos de cancro por diagnosticar que nos chegam ou chegarão em fases avançadas com o sofrimento humano e ético que isto acarreta”, acrescentou.
“Não nos podemos conformar, nem esperar que estas pessoas, que a maior parte das vezes não têm voz, possam ser consideradas as novas vítimas da pandemia. Estão vivas e temos de cuidar delas, porque se assim não for serão esquecidos e eliminados pelo tempo e com o tempo. Não se pode aceitar que por inércia seja condenada tanta gente quando ao mesmo tempo se avança como nação através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que investe hoje para salvar a economia do amanhã”, defendeu a bastonária.
Ana Paula Martins assegurou que a Convenção acompanha a implementação do PRR na área da Saúde, apontando a transição digital como uma das principais prioridades. “O PRR começa aqui na Saúde trazendo connosco a determinação de não deixar ninguém para trás, investindo o que for preciso, dando o nosso melhor”.
A bastonária considera urgente a definição de um “plano rigoroso” que permita conhecer “com exatidão os atrasos, as carências, os défices materiais e organizacionais do sistema, a falta de capital humano de forma a traçar um plano de ação claro, objetivo, realista, visando a recuperação imediata da assistência aos portugueses e a criação de condições que permitam enfrentar com tranquilidade os desafios futuros do setor da saúde”.
Para a representante dos farmacêuticos, “o SNS não é o sistema de saúde para os pobres, nem o privado para os ricos ou remediados. O sistema nacional de saúde é um grande ecossistema que serve todos de acordo com as suas necessidades, tendo em conta as preferências dos cidadãos que não são agentes passivos no século XXI”.