O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, está a realizar um conjunto de reuniões com vários responsáveis do setor da saúde sobre o combate à pandemia de covid-19. A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos (OF) foi recebida em audiência ontem à tarde, tendo enfatizado algumas ineficiências nos domínios do planeamento e da comunicação. Ana Paula Martins fez também um ponto de situação sobre a campanha de vacinação contra a gripe nas farmácias.
O Presidente da República reúne esta semana com vários responsáveis, dirigentes e agentes do setor da saúde, procurando assim registar perceções sobre a evolução da pandemia e sobre a adoção de novas medidas de contenção e de combate à transmissão do novo coronavírus.
Na audiência com a bastonária da OF, foi apontada a falta de preparação e planeamento para esta segunda vaga da pandemia. “Não estamos pior do que estávamos e sabemos muito mais do que aquilo que sabíamos. Agora que podíamos ter feito muito mais nestes sete meses para nos prepararmos e organizarmos mais, isso seguramente, isso digo-o objetivamente”, disse a bastonária à comunicação social, no final do encontro com o Chefe de Estado.
“Além da resposta ao dia-a-dia da pandemia”, acrescentou a responsável da OF, o País deveria também reservado “espaço para preparar o futuro. Essa parte falhou”, considera Ana Paula Martins.
Para a representante dos farmacêuticos, “o Serviço Nacional de Saúde tem sido o motor desta resposta à pandemia”, mas entende também que devem ser estudadas formas de colaboração com outros setores, “sobretudo o setor privado, que também tem disponibilidade para poder entrar neste esforço nacional”.
Ana Paula Martins considera ainda que devem ser operacionalizadas respostas mais céleres para prestação de cuidados aos doentes não-covid. “Acreditamos que é preciso uma task-force ou uma unidade de missão para ver como resolver os problemas de pessoas que precisam de uma cirurgia e de outro tipo de cuidados”, disse ainda, dado como exemplo os programas extraordinários de recuperação das listas de espera, que já existiam antes da pandemia, mas que são agora mais urgentes no contexto pandémico que vivemos.
A bastonária deixou ainda uma nota sobre os cuidados continuados, considerando que justificam uma atenção redobrada. “Precisamos urgentemente de dar mais atenção aos cuidados continuados e estruturas residenciais para idosos. Todos sabem o que temos vivido relativamente aos lares. É absolutamente fundamental que estejamos focados na proteção das equipas e dos utentes”.
Ana Paula Martins criticou anda a comunicação em torno da pandemia, que “tem sido bastante irregular”. O contexto exige “quatro ou cinco mensagens muito direcionadas, que envolvam as pessoas e que as façam sentir-se responsáveis”, defende.
“Poderíamos e deveríamos comunicar melhor e deveríamos ter campanhas nos meios de comunicação social. As conferências de imprensa respondem a necessidades específicas, mas não são as conferências de imprensa que tiram as dúvidas dos portugueses, que lhes dão confiança, nem que os chamam ao que é voluntariamente a sua responsabilidade”, disse.
A bastonária defendeu que “é preciso continuar a insistir todos os dias” em “coisas básicas” como os equipamentos de proteção individual contra a covid-19.
Para a bastonária, o combate à pandemia não se faz “com normas que às vezes as pessoas não percebem, às vezes com decisões que depois estamos três ou quatro dias a discutir se a decisão pode ser ou não pode ser implementada”, disse.
“Se não forem os portugueses a querer quebrar esta transmissão e a responder à covid, nós nunca conseguiremos fazer isso através de processos normativos. Não é possível. Cria tensão, cria problemas de coesão que devemos tentar evitar”, acrescentou.
Ana Paula Martins abordou ainda o tema da vacinação contra a gripe nas farmácias. Segundo avançou, as farmácias devem conseguir vacinar cerca de 400 mil pessoas até final da presente semana.
A bastonária admitiu a complexidade do processo que levou à inclusão da rede de farmácias na campanha de vacinação contra a gripe sazonal deste ano. “Deveria ter sido melhor coordenado”, apontou.
“Na próxima semana chegam mais vacinas, mas não sabemos ainda qual vai ser a sua distribuição”, notou a bastonária, sublinhando o compromisso das farmácias para vacinar 700 mil pessoas até ao final da campanha de vacinação contra a gripe, que decorre até dezembro.
Para Ana Paula Martins, a distribuição das próximas doses tem de garantir um equilíbrio e equidade. “É um processo complexo, é verdade que podia ter sido melhor coordenado, mas neste momento estamos no terreno e a conseguir dar resposta com as vacinas que temos”, disse a bastonária.
“Temos muita gente que nunca se vacinou e que agora se quer vacinar. É preciso dizer com clareza que os grupos de risco são quem mais ganha com a vacinação”, explicou.
“Tenho uma grande convicção que nas próximas duas semanas, com o processo já a desenrolar-se, com menos ansiedade e menos expectativa por parte dos portugueses, acredito que vamos conseguir transmitir alguma serenidade e que nas próximas duas semanas, à medida que as pessoas se vão vacinando, isso vai atenuando a sensação de desconfiança em relação a não ter vacina”, concluiu a bastonária.