A Ordem dos Farmacêuticos (OF), cumprindo uma tradição iniciada em 1989, assinalou a 26 de setembro, o Dia do Farmacêutico. O programa das comemorações contemplou um vasto conjunto de atividades que se iniciaram alguns dias antes.
Na intervenção de Ana Paula Martins na abertura da Sessão Solene foram destacados alguns desafios que se colocam atualmente à profissão. Desde logo a recente aprovação, em Conselho de Ministros, do diploma que vem regular os atos em saúde das diferentes profissões, “um processo complexo, que nos amadureceu a todos enquanto profissionais e que nos obrigou enquanto dirigentes a encontrar soluções, tendo sempre em primeiro lugar os interesses dos doentes”.
Na opinião da bastonária, os representantes das profissões de saúde participaram nesta discussão “com a maturidade necessária para não ter como propósito conquistar teimosamente territórios”, tendo neste domínio realçado a forma como o secretário de Estado Adjunto e da Saúde conduziu o processo, conseguindo obter “o melhor de cada um de nós”.
Para a bastonária, o resultado deste trabalho constitui um exemplo de convergência, compromisso e tolerância, que deveria ser seguido pelos agentes políticos, na obtenção de consensos em torno da preservação e sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A dirigente da OF realçou também os recentes desenvolvimentos legislativos em torno da prestação de serviços farmacêuticos nas farmácias comunitárias, nomeadamente os incentivos ao crescimento do mercado de genéricos e a dispensa de medicamentos para o VIH/sida, que “representam mais responsabilidade para com os nossos doentes e com o SNS”.
Existem, no entanto, segundo a bastonária, outras áreas em que é possível fazer mais e melhor. “Não conseguimos perceber o que falta para que a Saúde seja efetivamente reconhecida como sector estratégico para a economia nacional. Como o calçado, os vinhos e o turismo. Falamos da nossa indústria da saúde que, a par com o SNS, os seus profissionais e as suas instituições, gera riqueza, promove emprego e é um dos principais exportadores do País”, sublinhou, já na parte final do seu discurso.
[Clique aqui para ler o discurso da bastonária]
Em seguida, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, dirigiu também algumas palavras aos farmacêuticos portugueses, reconhecendo o papel destes profissionais na sociedade e a sua capacidade de adaptação à inovação científica.
O governante enumerou algumas medidas adotadas no âmbito da Farmácia e do Medicamento, tendo revelado que o diploma que regula os horários de funcionamento das farmácias se encontra em revisão, de forma a permitir uma maior flexibilização na organização dos turnos.
Adalberto Campos Fernandes referiu-se também aos avanços no processo de desmaterialização da receita eletrónica, agradecendo o esforço de todos os parceiros perante algumas dificuldades operacionais.
Respondendo ao repto lançado pela bastonária relativamente à criação da Carreira Farmacêutica no SNS, o membro do Governo reconheceu a relevância desta pretensão da profissão farmacêutica, mas anunciou que a discussão sobre a sua implementação não ocorrerá antes de finais de 2017 ou início de 2018.
“Temos um compromisso ao nível da Administração Pública, ao nível do Ministério das Finanças, que a abordagem às carreiras profissionais na área da Saúde terá de ser feita no tempo e no modo adequado, depois do País cumprir as suas obrigações e responsabilidades, que extravasam os setores profissionais”, explicou.
O ministro assegurou, no entanto: “tudo farei para que, tão cedo quanto possível, e as condições do País assim o permitam, reabrir o diálogo e fazer jus a uma expectativa e a um desejo, que mais do que de natureza corporativa, se justifica no plano da segurança, da qualidade e no reconhecimento do mérito deste grupo profissional”.
O programa da Sessão Solene prosseguiu com a conferência do jovem farmacêutico investigador, Pedro Baptista, que desenvolve atualmente o seu trabalho no âmbito da bioengenharia de órgãos e tecidos no Instituto de Investigacion Sanitaria de Aragon, em Zaragoza, Espanha.
Durante a cerimónia houve ainda lugar para um momento musical, com a atuação do grupo Buenamoza, que tem como vocalista a farmacêutica Joana Viveiro.
Na segunda parte, procedeu-se à entrega das distinções atribuídas pela OF por ocasião do Dia do Farmacêutico: a Medalha de Honra da OF foi atribuída à Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependência e Alcoolismo e ao Laboratório de Análises Fármaco-Toxicológicas da Marinha; os farmacêuticos que completam 50 anos de profissão, assim como os estudantes que obtiveram as classificações mais elevadas em cada uma das instituições de ensino superior que lecionam o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (Prémio Sociedade Farmacêutica Lusitana), receberam os respetivos diplomas; e o Prémio de Investigação Científica Professora Doutora Maria Odette Santos-Ferreira foi entregue a Filipa Duarte Ramos e à sua equipa de investigação pelo trabalho desenvolvido no âmbito do mapeamento epidemiológico da paramiloidose.
A Sessão Solene terminou com um jantar de convívio entre farmacêuticos de várias áreas profissionais e de várias gerações e em que participaram também representantes de estruturas e organizações ligadas ao setor da Saúde e, em especial, à área farmacêutica.