Bastonária antevê desafios futuros do SNS – Notícias


Os farmacêuticos portugueses assinalaram hoje, no Porto, os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O evento organizado pela Ordem dos Farmacêuticos (OF), em parceria com as associações profissionais de farmacêuticos e de representantes dos doentes, juntou mais de uma centena de participantes e personalidades ligadas ao passado, presente e futuro do SNS. “Para os farmacêuticos, celebrar o SNS é projetar o seu futuro com sucesso”, um sucesso que se traduz “em melhores resultados em saúde para os portugueses no século XXI”, destacou a bastonária da OF na abertura da conferência “SNS 40 Anos: Saúde para Todos”.

A iniciativa da OF, em conjunto com a Associação dos
Distribuidores Farmacêuticos (Adifa) Associação de Farmacêuticos de Portugal
(AFP), Associação Nacional das Farmácias (ANF), Associação Portuguesa de
Analistas Clínicos (APAC), Associação Portuguesa de Analistas Clínicos (APAC), Associação
Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF), Associação Portuguesa de Jovens
Farmacêuticos (APJF), MAIS PARTICIPAÇÃO melhor saúde e Plataforma Saúde em
Diálogo, decorreu no novo edifício da Secção Regional do Norte da OF.

Na abertura do evento, a bastonária, Ana Paula Martins, agradeceu
o envolvimento e participação de todos estes parceiros. “Através desta reunião,
fomos capazes de reforçar um espaço comum de diálogo, com as associações do
sector farmacêutico, com as associações de pessoas que vivem com a doença, com
os cuidadores, com as associações de jovens farmacêuticos e estudantes de Farmácia.
Queremos agradecer a todos os parceiros que hoje aqui estão, porque são a prova
de que é possível idealizar em conjunto, encontrar soluções partilhadas,
orientar a ação para resultados concretos que ajudam a transformar um país
concreto, feito de pessoas com necessidades concretas, razão de ser de qualquer
governação”, realçou a bastonária.

Lembrou ainda os 25 anos da
Associação dos Farmacêuticos dos Países de Língua Portuguesa (AFPLP), que
esteve reunida na véspera, também no novo edifício da Secção Regional do Norte
da OF. “Durante 25 anos sonhámos em conjunto, realizámos em conjunto, criámos
uma identidade farmacêutica na lusofonia. Fomos AFPLP antes de sermos CPLP.
Liderámos o nosso destino coletivo, prova da nossa maturidade como profissão,
num legado de inteligência colaborativa, respeito e afetos. E também hoje aqui
assumimos que falar da saúde em Portugal e do seu futuro é uma forma de
continuar a construir esta identidade conjunta nos próximos 25 anos”.

Ana Paula Martins reconhece que “a criação do SNS foi
efetivamente uma conquista dos portugueses e de lideranças motivadas pelo bem
comum, que não hesitaram em eleger a Saúde como uma área de investimento público
prioritário”. Para a bastonária, a evolução de alguns indicadores de saúde ao
longo destes 40 anos mostram também o desenvolvimento do País. “Esse Portugal
já não seria possível hoje porque os portugueses não o aceitariam. Já não é
desta saúde que hoje falamos e não podemos continuar a comparar-nos eternamente
com o que já não somos”, disse a bastonária.

No entanto, alertou também que alguns portugueses continuam
a viver, “na primeira pessoa, situações que já não estão disponíveis para viver,
quando aguardam 12 horas numa urgência, quando esperam anos por uma consulta
médica da especialidade ou por uma cirurgia, que não têm saúde oral ou apoio na
doença mental ou segurança alimentar”.

Apesar de todas as dificuldades, o
SNS continua a desempenhar o seu papel de “amortecedor social”, mas em “condições
globalmente muito precárias”, não só no que se refere ao financiamento, mas
principalmente na “falta de recursos humanos, numa ausência quase total de uma
política para as profissões, num desalinhamento entre a missão da governação
central e o que deve ser a autonomia e responsabilização nas unidades
prestadoras de cuidados de saúde”, destaca a bastonária.

A representante dos farmacêuticos
considera ainda que “a governação está muito centralizada no Ministério da
Saúde que, Governo após Governo, não consegue implementar as medidas há muito
anunciadas, onde responsabilidade e autonomia não são sinónimos, onde as
equipas se desfazem porque não há uma estratégia de retenção e valorização do
capital humano”.

Ana Paula Martins entende que o SNS se tem de “revitalizar,
reorientar, continuar a atrair capital humano de qualidade, orientar-se para a
excelência, usar a decisão baseada em factos e libertar-se da discussão
exclusivamente ideológica que, no essencial, nem nos divide, apenas confunde o
debate que precisamos de ter”.

Para a dirigente da OF, “um SNS forte e moderno integra os
recursos e o capital humano disponível (capacidade instalada) e tem como único
critério a qualidade e os resultados, opta por modelos flexíveis para
concretizar a equidade no acesso, renova formas de financiar para garantir a
cobertura universal, promove a transparência na decisão e a pluralidade na
participação, como única forma de garantir a solidariedade nas escolhas
difíceis que, como sociedade, vamos forçosamente ter de fazer”.

A bastonária apontou quatro desafios fundamentais no desenvolvimento
do SNS: demografia, prevenção, multimorbilidade, inovação tecnológica. “Qualquer
destes desafios representa enormes oportunidades”, considera. “Porque nos
permite ver a saúde como um investimento que cria valor, que transforma a
sociedade, ao invés de uma área exclusivamente assistencial, sanitária ou até de
proteção social (que não deixa de ser)”, explicou.

Para a bastonária, não há outra
opção: “temos mesmo de nos conseguir organizar, para responder às necessidades
que os cidadãos e as pessoas que vivem com a doença, seus familiares e
cuidadores, têm hoje e terão no futuro. Temos de encontrar novas proximidades,
gerir a complexidade emergente de riscos evitáveis, as novas epidemias, os
desafios da sustentabilidade, a incorporação racional e ética da inovação
tecnológica e terapêutica, o digital, as inúmeras possibilidades que a inteligência
artificial e a ´omnicas´ nos abrem, um sem número de realidades já presentes no
nosso quotidiano e que o nosso admirável mundo novo anuncia”.

Apesar de toda
a evolução científica e tecnológica na prestação de cuidados de saúde, Ana
Paula Martins reforça o apelo à humanização dos cuidados. “O SNS dos próximos
40 anos será forçosamente diferente, porque vai responder a novas realidades. A
gerações diferentes. Muito mais próximo e sobretudo mais desmaterializado, à
distância de uma app. Mas onde será cada vez mais necessária a relação
humana, a afirmação dos afetos, a assumida compaixão”, concluiu.

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