O secretário de Estado da Saúde, António Sales, admitiu ontem que a Saúde é uma prioridade para o novo Governo. “Sim. Sim. O Governo assume a Saúde como uma prioridade desta legislatura”, assegurou. O governante falava na abertura da quarta conferência organizada pela Convenção Nacional da Saúde, na Universidade Nova de Lisboa (UNL), que juntou representantes dos doentes e de instituições ligadas ao setor da saúde. A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos (OF) moderou um debate sobre os desafios dos próximos quatro anos da Saúde, manifestando preocupação pelo facto do Serviço Nacional de Saúde (SNS) viver “um momento de desinvestimento e erosão, em vez de se modernizar e atrair os melhores”.
“A saúde é a área que os portugueses mais valorizam”, realçou
o novo secretário de Estado da Saúde, lembrando algumas medidas inscritas no
programa do Governo. António Sales lembrou também que esta Convenção tem como
objetivo a definição de uma agenda para a década. “Há muito trabalho a fazer e
um longo caminho a percorrer. Caminho que temos de fazer em conjunto”, disse o
membro do Governo.
Ana Paula Martins, bastonária da OF, lançou o mote para o
debate que sucedeu a intervenção inicial do cirurgião e vice-reitor da UNL,
José Fragata. A representante dos farmacêuticos lembrou que mais de 40% dos portugueses
vivem com duas ou mais doenças e que a saúde mental continua a ser um parente
pobre do sistema de saúde. “A saúde em Portugal previne pouco, trata muito e nem
sempre bem”, disse a bastonária.
“Multiplicam-se as dificuldades financeiras no SNS, os
médicos que assumem não ter condições para garantir a segurança dos doentes,
urgências que encerram porque não há recursos humanos para as assegurar.
Sabemos que o SNS é resistente, que acolhe e que cerca de 40% dos portugueses
têm seguro de saúde para se sentirem seguros quanto ao acesso quotidiano às
consultas, meios de diagnóstico, cirurgias e outros serviços. E temos
dificuldades de acesso aos medicamentos, que são motivo de preocupação por
parte das pessoas e dos profissionais”, exemplificou a dirigente da OF.
“Apesar de tudo, todos os dias se fazem coisas fantásticas
no SNS”, acrescentou.
A bastonária lamentou a falta de “um
plano estratégico de mudança, de transformação”, contrariando a “desculpa” de
que quatro anos não são suficientes para concretizar as promessas que são
feitas. “De quatro em quatro anos, já passaram 20 anos em que muita coisa foi
feita. Mas em que tanta coisa ficou por fazer, iniciativas importantes por
avaliar, mas sobretudo modelos que mostraram ser o caminho, e que nunca se
conseguiram expandir”.
Para a bastonária, o diagnóstico
está feito, mas é a quem Governo que cabe, legitimamente, decidir e executar. “Temos
o direito de participar nas decisões e o dever de o fazer de forma
transparente, construtiva e solidária”, realçou Ana Paula Martins, num “desígnio
que precisa de “todos e de cada um de nós. Precisa de uma sociedade mobilizada,
que se faz ouvir de forma construtiva, sem segundos interesses ou proveitos,
sem a muito justa, mas habitual retórica de cada um dos grupos que cada um de
nós, individualmente, representa”.
“Há momentos na história de um país
em que é preciso ser firme na ação para garantir os valores de que somos
feitos. Este é um desses momentos e cada um de nós por igual é protagonista
desta história”, defendeu a bastonária.